terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vinho Nacional: bom, ruim ou apenas preconceito?

Esta é uma daquelas perguntas invariáveis sempre que estou entre amigos que também gostam de vinho. Afinal somente os vinhos importados são bons?

O vinho brasileiro evoluiu muito nos últimos anos com a introdução de tecnologia no processo de plantio e manejo e principalmente na vinificação. Novas castas foram importadas e introduzidas, métodos de plantio modificados, tanques de cimento foram substituídos por cubas de aço inox com controle de temperatura automatizado, análises precisas em laboratórios tornaram-se rotina, enólogos de renome foram chamados. Enfim, melhorias que resultaram em vinhos melhores.
Mas....,pois é tem um mas.
Apesar de todos estes esforços, nosso vinho ainda deixa muito a desejar e bons rótulos ainda são uma exceção. E isto tem muito a ver com um problema bem complicado. A localização de nossas regiões produtoras. As regiões ideais para a produção de vinho ficam localizadas entre as latitudes 30° e 50° norte e sul. Nestas faixas do planeta o clima é temperado, com estações bem definidas (invernos frios e verões quentes e secos). Olhando no mapa abaixo, vê-se que nesta faixa estão ali localizados os principais e mais importantes produtores do mundo. Europa (Itália, França, Espanha, Portugal, parte da Alemanha), No novo mundo (Austrália, Nova Zelândia, Chile, Argentina, Califórnia).





Para nós sobrou uma pontinha, mas apesar desta pontinha, o nosso clima não ajuda.
A videira tem um ciclo muito bem definido que faz toda diferença na qualidade da uva que ela produz. Assim, no inverno ela hiberna (veja a foto abaixo). Parece até que a planta esta morta.




Ai vem as primeiras florações na primavera. Frutos e colheita no verão.



Poda no outono.




Neste países, verões secos e quentes.
Aqui em nossas terras, verões quentes, porém úmidos, muito úmidos. Mesmo na Serra Gaúcha, é comum chover muito no verão.
O excesso de água nesta fase compromete muito a qualidade da uva, pois ela absorve muita água, diminuindo sua concentração de açúcar e outros componentes fundamentais para um vinho de qualidade.
Além disso, por incrível que pareça, nosso solo é muito rico em nutrientes, o que também atrapalha. Estranho não é? Mas a videira produz as melhores uvas (mas em pequenas quantidades) em solos pedregosos e até certo ponto pobres em nutrientes.
Tenta-se de tudo, mas principalmente no vinho tinto, estas características resultam num vinho sem corpo, sem estrutura.
Muitas vezes é necessário se utilizar de um recurso, chamado chaptalização, onde açucar é acrescentado ao mosto durante a fermentação para compensar a falta de açucar da própria uva.

Há exceções é claro, mas de um modo geral ainda é muito difícil competir com vinhos das regiões mais apropriadas. Lá estas condições estão bem atendidas.
Aqui quando se consegue um vinho bom este acaba tendo um preço que não consegue competir com os vinhos dos nossos hermanos da Argentina ou Chile, por exemplo. Juntando ai também o fato de que se têm o estigma do vinho importado, a vida dos produtores aqui acaba não sendo nada fácil.

E o Vale do São Francisco? Lá não chove nunca não é mesmo. Pois é, e também é verão o ano todo. A videira lá produz 3, 4, 5 ou até mais vezes por ano. Ai o problema é outro, a videira não consegue fazer seu ciclo natural (hibernação, floração, maturação, poda) no tempo adequado. Consegue-se, portanto uma alta produtividade, mas a qualidade fica muito comprometida.

Nos vinhos brancos, por terem suas uvas colhidas bem antes das chuvas de verão, e por necessitarem de menos corpo e estrutura, já conseguimos bons resultados, principalmente nos espumantes, com alguns rótulos muito interessantes mesmo. Neste caso a tecnologia no processo de vinificação vem fazendo toda da diferença.

Mas é isto, nosso vinho, principalmente os tintos, apesar de estarem melhorando a cada ano, ainda não conseguem competir em pé de igualdade com rótulos oriundos das grandes regiões produtoras no mundo.

2 comentários:

  1. Atualmente temos grandes vinícolas como por exemplo a Pizzato, Pericó, Cave Geisse que posseum vinhos de excelente qualidade.

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  2. Para que insistir? Não tentam produzir café na França e na Argentina. Em vez de uva , alho , por exemplo

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